Após não conseguir reeleição, deputado Carlos Souza (PSD-AM) renuncia a mandato
Em carta, Souza afirma
que decidiu renunciar ‘após profunda reflexão’ por não ter sido reeleito
nas votações do início de outubro
Brasília (Sucursal), 29 de Outubro de 2014
ANTÔNIO PAULO
Causou
surpresa no meio político local a renúncia inesperada do deputado
federal Carlos Souza (PSD-AM), ocorrida ontem pela manhã. Em carta
enviada à Mesa Diretora da Câmara, o parlamentar amazonense disse que
decidiu renunciar por não ter sido reeleito nas eleições deste ano para o
quarto mandado. Sentindo-se desmotivado para continuar no exercício do
cargo, preferiu deixar o mandato dizendo-se consciente da atuação
reconhecida, em referência à menção feita na revista Veja e Exame que o
colocaram na 11ª posição entre os deputados mais atuantes entre os 513
deputados federais.
“Por
compreender o recado das urnas, não me sentiria confortável em
permanecer mais esses meses sem corresponder às expectativas em mim
depositadas pelo povo amazonense, a quem agradeço de coração a confiança
e o carinho”, justificou Carlos Souza.
No
entanto, o motivo real da renúncia de Carlos Souza pode ter sido o fato
de a Ação Penal 671/2012, que acusa o deputado e mais nove réus
amazonenses pelo crime de associação ao tráfico de drogas (caso de 2009,
envolvendo os irmãos Fausto e Wallace Souza, esse último já falecido)
ter entrado na pauta de julgamento da Segunda Turma do Suprem Tribunal
Federal (STF) no último dia 28 de outubro. A assessoria do Supremo
informou que a AP 671 não foi julgada na sessão de terça-feira passada e
que poderá entrar na pauta novamente na semana que vem.
Sendo
este o real motivo da renúncia de Carlos Souza – escapar de prisão
imediata, cassação do mandato e perda dos direitos políticos por oito
anos, em caso de condenação pelo Supremo – o ex-deputado pretendeu
eliminar o foro privilegiado que têm os políticos federais (deputados e
senadores), ministros de Estado e presidente da República que só podem
ser julgados pelo STF. Com isso, o processo desceria para a primeira
instância da Justiça Comum do Estado do Amazonas.
Mas
essa manobra poderá não ter os efeitos esperados. Em recentes decisões,
os ministros do Supremo Tribunal Federal não acataram renúncia de
mandato para sustar o julgamento na Corte devido ao adiantado andamento
do processo. Por outro lado, acolheu o pedido da defesa do ex-deputado
Eduardo Azeredo (PSDB-MG) que renunciou ao mandato para ser julgado na
primeira instância no caso do “Mensalão Mineiro”.
De
acordo com a assessoria do STF, somente os ministros, no momento do
julgamento, vão decidir se mantêm a ação penal no Supremo ou se o
processo descerá para a primeira instância porque Carlos Souza não tem
mais foro privilegiado. Ontem, momentos depois da carta-renúncia ser
lida na Câmara, a defesa do ex-deputado entrou com petição no gabinete
do relator Gilmar Mendes informando sobre a decisão.
Denúncia por associação ao tráfico
Em
novembro de 2009, o Ministério Público do Estado do Amazonas (MPE)
ofereceu denúncias à Justiça contra Carlos e Fausto Souza pelo crime de
associação para o tráfico, assim como contra a produtora do programa
“Canal Livre”, Vanessa Lima, e o escrivão de polícia João Bosco Sarraf
de Rezende. A prisão preventiva deles também foi pedida. Na denúncia
consta que Carlos e Fausto, assim como o irmão deles , o ex-deputado
estadual Wallace Souza (falecido em 2010), tinham relação com o tráfico
de drogas e usavam o “Canal Livre” para obter informações privilegiadas
sobre o funcionamento de bocas-de-fumo de traficantes concorrentes.
Para
o MPE, os Souza, junto de Vanessa Lima, planejavam as reportagens do
programa de TV de modo a prejudicar os rivais. Na peça da defesa, o
advogado requereu absolvição sumária para Carlos e Fausto. Félix Valois
pediu que a denúncia não fosse acatada sob o argumento de que não havia
indícios contra Carlos e Fausto e nem provas da materialidade do crime
de associação para o tráfico. Carlos Souza, que era vice-prefeito de
Manaus, chegou a ficar uma semana preso na Unidade Prisional do
Puraquequara. Eleito deputado federal em 2010, o processo contra ele
subiu para o STF por causa do foro privilegiado.
Deputado completa 14 anos de carrreira
O
radialista, professor e biólogo Carlos Souza estava há 14 anos na
carreira política. Começou em 2000, quando foi eleito o vereador mais
votado de Manaus com quase 70 mil votos. Dois anos depois, candidatou-se
e venceu a eleição para deputado federal, também como um dos mais
votados do pleito, sendo reeleito em 2006. A popularidade em alta, por
conta do programa “Canal Livre”, levou-o a integrar a chapa de Amazonino
Mendes, em 2008, para a Prefeitura de Manaus. Ficou no cargo apenas
dois anos, pois, em 2009, veio à tona o escândalo envolvendo os irmãos
Souza justamente no “Canal Livre”.
Com
uma situação política insustentável, por conta das denúncias, e
defenestrado pelos aliados políticos, Carlos Souza jogou a última
cartada: renunciou ao cargo de vice-prefeito de Manaus, candidatou-se
novamente à Câmara dos Deputados e foi eleito com 112 mil votos. Em
2011, trocou o PP pelo recém-criado PSD, do qual era um dos vice-líderes
na Câmara. Nas eleições deste ano, com uma votação de 53.020 votos não
foi reeleito, motivo pelo qual alegou renunciar ontem ao mandato. Quem
assume o lugar dele é Luiz Fernando Nicolau, também do PSD, que já foi
deputado federal.
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